domingo, 18 de setembro de 2011

A despedida


E com o nascer daquele sol, por entre tantas nuvens que ameçavam o dia que mal tinha nascido, eu fui também despertando. Não tinha sono apesar do cansasso fisico. Fiquei lá, em seus braços, olhando-o dormir. Sabendo que pouco a pouco ele desapareceria e seria como se nada tivesse acontecido. Sabendo que ele não ligaria no dia seguinta e nem nunca. Isso não doeu. O dia me trouxe, também, a convicção de que o homem com quem eu passara a noite não era o mesmo, assim como eu também não era. Eramos dois estranhos finjindo ser alguem que já não somos mais. Sexo casual. Dois atores. Personagens felizes.
Olhando ele dormir por pouco menos que 10 minutos e divagando. Pensando em como eu gostaria de tê-lo assim e que, agora que o tinha, não tinha o medo de perder. Percebi que, antes, quando o tinha, não pensava nela um só minuto. Não quando estava com ele, mas quando ele ia embora só sobrava a culpa. Essa malvada que me corroeu a alma.. Dessa vez foi diferente. Não penso nela quando o tenho e penso menos ainda quando ele se vai. Pelo contrario, senti alivio. Senti que os nós dos meus músculos se desataram. Do nosso encontro saí mais leve, sonolenta e leve. Mas o tempo não para, a noite acabou e já era hora de voltar pra casa. Pressionei meus lábios contra os dele e fui embora.

O encontro - part II



Sim, ele se foi. Foi para o quarto do lado. E eu fui direcionada a dormir naquela direção. Cheguei, pedi espaço, virei de costas e prometi que não iria provocar. Ele me fez rir de alguma maneira e quando menos esperava estava em seus braços. Ele me beijava e me apertava como se ele fosse desaparecer a qualquer instante, ele sabia que iria, e eu também. Tinha uma fome nos nossos gestos, uma fome de anos! Eu sabia que não devia, mas também sabia que era a coisa mais certa a ser feita. Saciar nossa fome um do outro para que então essa fome possa ser de outro alguém. Eu não pensei que iria acontecer um dia, nem acreditava mais nisso, no entanto eu estava alí. Pura, nua, crua. Sem tremores, nem medos. Durou a eternidade de uma noite. Eu me senti feliz como nunca ele havia me feito sentir. Uma felicidade sem falsos "Eu te amo", sem promessas de um futuro bom, sem ilusão. Era só eu e ele naquele quarto, sem roupa e sem mascaras. Só nós, só carne.
A gente se tornava um e então voltava a ser dois, repetida e incansavelmente, até o sol começar a aparecer de mansinho.. como quem dizia "acordem os dois, é só mais um sonho". E era exatamente como se parecia. Um sonho antigo.

O encontro - part I



Nênia, ele disse carinhosamente, depois das 22:00 horas ele vai vir pra cá, tudo bem pra você?
Não, não tava tudo bem.. só de pensar em estar no mesmo ambiente que ele e saber que eventualmente trocariamos alguns olhares, talvez até palavras, me deixou meio desconcertada. Mas eu disse que sim e fiz cara de pouco caso. Depois contava as horas silenciosamente até que a hora do encontro acontecesse. E aconteceu. Ele chegou e eu fingi estar envolta num jogo qualquer para não ter de encara-lo, ao menos não agora. Estava demasiada nervosa e precisava contar para alguém, mas quem além de mim mesma entederia ? Então engoli tudo aquilo junto com umas doses de vodka e olhei-o, ele olhou de volta pro meu espanto! E ainda deu um sorrisinho sem graça. Depois do primeiro contato desajeitado já estavamos todos conversando como velhos amigos, como se nada tivesse acontecido há algum tempo atrás. Aquilo foi tão bom que por um momento eu senti o tempo parar só pra eu ficar olhando de fora de mim. Durou o tempo do sono chegar, e ele se foi.